Magistrada registrou desrespeito e agressividade verbal e gestual por parte do advogado contra ela e contra a advogada da parte contrária, e pontuou que aqueles comportamentos não seriam tolerados.
O comportamento de um advogado durante audiência trabalhista chamou a atenção da juíza do Trabalho Jeovana Cunha de Faria, da 4ª vara de Goiânia/GO, motivando-a a realizar uma advertência. Em sua fundamentação, a magistrada ressaltou que o causídico “agiu com desrespeito e com agressividade, verbal e gestual” em relação à advogada da parte oposta, e, posteriormente, à própria juíza.
A magistrada citou que o “tom de voz alterado e as gesticulações excessivas e agressivas” dele “tentando se impor por atributos corporais”, com voz e gestos afrontosos, mostraram sua tentativa de imposição por meio da força, tanto que, quando alertado pela magistrada sobre conteúdo aparentemente misógino, afirmou que “o mundo está muito chato”. A situação levou a juíza a adverti-lo:
“Advirto que comportamentos congêneres não serão tolerados, tal como indicado no bojo da ata de audiência, situação em que serão tomadas todas as providências legais cabíveis à espécie.”
O agastamento teve início quando a advogada solicitou ao defensor que deixasse de usar o celular durante a audiência. A juíza reforçou o pedido, para que o aparelho fosse utilizado apenas em caso de urgência. A partir disso, o advogado teria alterado o tom de voz, “começou a gesticular de forma agressiva e passou a se dirigir à sua colega pelo nome, sem a aposição da palavra doutora, e afirmou que ela estava insultando que ele estava fazendo algo de errado enquanto mexia no celular”, descreve a ata.
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A magistrada interferiu, pontuando que a advogada estava apenas cumprindo seu papel, falando baixo e com educação, não havendo motivo para tal comportamento. Diante do alerta da magistrada sobre conteúdo aparentemente misógino, o advogado respondeu dizendo que “o mundo está muito chato mesmo”.
“A referida afirmação reverbera o desrespeito que graça na sociedade em relação às mulheres e ao direito das minorias, pois, ao clamarem por tratamento condigno, são deslegitimadas por meio da referida estratégia.”
A juíza ainda citou uma reflexão da professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e jornalista Gabriela Prioli sobre a questão, que diz:
“É mimimi reclamar de racismo estrutural num país em que os negros estão sobrerrepresentados entre os que vivem abaixo da linha da pobreza, os jovens negros são as vítimas preferenciais da polícia e, no ano passado, as mulheres negras receberam 44,4% do salário dos homens brancos. Aliás, é mimimi discorrer sobre dados de violência contra a mulher no Brasil.”
Em vista do pedido de desculpas que o advogado realizou em sede de razões finais, tanto em relação à advogada, quanto em relação à magistrada, Jeovana Cunha de Faria considerou suficiente a advertência realizada por ela.
Processo: 0011013-60.2020.5.18.0004
Leia a ata de audiência.